novembro 24, 2005

Aos 16, deficiente é campeão de matemática

Ele não enxerga, quase não ouve, usa cadeira de rodas e tem grande parte
dos movimentos comprometidos. Portador de artrite reumatóide, Paulo Santos
Ramos, 16, foi um dos vencedores da olimpíada de matemática promovida pelo
governo federal na rede pública de todo o país. A prova envolveu 10,5
milhões de estudantes de 31.028 escolas.

Sérgio Lima/Folha Imagem
Aos 16, deficiente é campeão de matemática
Aos 16, deficiente é campeão de matemática
Paulo é um dos 300 alunos que receberão uma medalha de ouro na Olimpíada
de Matemática das Escolas Públicas, organizada pelos ministérios da
Educação e de Ciência e Tecnologia.

Cursa a sexta série em uma escola regular do Plano Piloto, bairro de
classe média de Brasília. Participou da olimpíada com outros 220 alunos do
colégio e foi o único vencedor do grupo.

Matemática está entre as disciplinas preferidas dele, ao lado de
português, geografia e ciências. Quando a Folha o procurou ontem na
escola, ele ajudava um colega, também portador de deficiência visual, a
recuperar nota em outra matéria, história.

Paulo lê os textos em braile, mas a perda parcial do movimento das mãos o
impede de escrever e digitar. Por isso os professores o avaliam por meio
de testes orais. "Ele é muito estudioso, sedento de aprender", diz a mãe,
Maria Santos.

Em casa, o computador é usado tanto para fazer trabalhos da escola quanto
para se divertir, com o auxílio de um programa desenvolvido para
portadores de deficiência visual, que transforma a fala em texto escrito.

"Só converso coisas legais na internet", diz. O site preferido é o da Rede
Saci (www.saci.org.br), que tem informações dirigidas a deficientes. Nela,
entra em salas de bate-papo e cria jogos que desenvolvem, por exemplo, os
sentidos de espaço e direção.

A artrite reumatóide surgiu aos dois anos de idade. A primeira
manifestação foi uma inflamação na perna direita. Ele demorou a freqüentar
a escola, por causa da dificuldade da família em lidar com a doença, diz a
mãe. Às vezes falta às aulas em razão de dores, mas nunca foi reprovado.

Há quatro anos, passou a usar cadeira de rodas por causa da atrofia. A mãe
acredita que a doença agora esteja estabilizada com o uso de corticóide.

Paulo, por enquanto, parece não se importar com que carreira seguir no
futuro. Seu maior interesse é conseguir fazer fisioterapia no Hospital
Sarah Kubitschek, de Brasília, para tentar recuperar o movimento das
pernas. Ele, porém, afirma que ainda não conseguiu uma vaga.

SILVANA DE FREITAS
da Folha de S.Paulo, em Brasília

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